quinta-feira, 2 de junho de 2011

Câncer de Esôfago

O esôfago

O esôfago é um tubo muscular que leva o alimento e líquidos da boca para o estômago. O esôfago normal de um adulto tem entre 23 e 25 cm de comprimento e entre 2 e 3 cm de largura. A parede do esôfago tem várias camadas e, geralmente, o câncer desse órgão começa na mais interna e cresce em direção a mais externa. A camada que reveste o interior do esôfago é chamada de mucosa e tem duas partes, o epitélio e a lâmina própria. O epitélio é formado por células chatas e finas, chamadas células escamosas. A lâmina própria é uma fina camada de tecido conectivo que fica logo abaixo do epitélio.

A camada seguinte é a submucosa, que em algumas partes do esôfago contém glândulas secretoras de muco. Abaixo dela, está uma camada grossa de músculos, chamada muscularis propria. É ela que se contrai coordenada e ritmadamente para empurrar a comida ao longo do esôfago da garganta para o estômago. A camada mais externa é composta por tecido conectivo e é chamada de adventitia ou adventícia.

A parte de cima do órgão tem uma área muscular bem no seu início que relaxa para abrir o esôfago quando ele detecta a presença de líquido ou alimento seguindo em sua direção. É o esfíncter esofágico superior. A parte inferior, onde ele se conecta ao estômago, é chamada de junção gastroesofágica ou junção GE. Ela também possui uma área muscular especial, denominada esfíncter esofágico inferior, que controla o movimento do alimento do esôfago para o estômago e impede que os sucos gástricos e enzimas digestivas penetrem no esôfago.

Tipos de câncer

Há dois tipos principais de câncer de esôfago, o carcinoma epidermóide escamoso ou espinocelular (CEC) e o adenocarcinoma. Como todo o esôfago é normalmente revestido por células escamosas, o carcinoma epidermóide ou espinocelular pode ocorrer em qualquer ponto ao longo do órgão. Em décadas anteriores o CEC representava cerca de 96% dos casos de câncer de esôfago no Brasil e no mundo. Mais recentemente o quadro tem se modificado com o aumento do número de adenocarcinomas, chegando a representar cerca de 50% do total em alguns paises ocidentais.

Os adenocarcinomas têm origem no tecido glandular e tem crescido em frequência. Antes de o adenocarcinoma se desenvolver, as células glandulares precisam substituir as escamosas, como ocorre no esôfago de Barrett. Acomete na maioria das vezes a parte inferior do esôfago.

No Brasil, o câncer de esôfago está entre os dez mais incidentes segundo dados obtidos dos Registros de Base Populacional (Ministério da Saúde 2005). Espera-se ocorrer cerca de 10.590 casos novos deste tumor, e a estimativa por 100.000 habitantes é de 8,14 para homens e 2,45 para mulheres, observando-se maior freqüência na região sul, com previsão de até 22,57 casos novos por 100.000 habitantes (Ministério da Saúde 2005). Esses dados colocam o câncer de esôfago como um dos mais letais e de pior prognóstico.

Na consulta, o médico irá fazer uma série de perguntas sobre a história do paciente para checar sintomas e fatores de risco. O exame físico fornece informações sobre sinais do câncer de esôfago e outras doenças.

Esofagografia com bário: os cânceres de esôfago crescem da parede do órgão para a abertura interna. O contraste com bário pode mostrar irregularidades na superfície normalmente lisa da parede esofágica. A forma líquida do bário é usada para revestir a parede do esôfago antes que o raio-X seja feito. Esofagografia com bário é o primeiro teste diagnóstico feito em pessoas com dificuldades para engolir e pode identificar os cânceres avançados ou em estágio inicial. Nas chapas, os cânceres em estágio inicial aparecem como pequenas protuberâncias arredondadas ou como uma área achatada mais elevada, chamada placa. Nessas áreas, o bário se concentra de forma irregular. Cânceres avançados aparecem como grandes áreas irregulares que causam estreitamente do esôfago. A esofagografia com bário, porém, não pode mostrar o quanto o câncer avançou para fora do esôfago. O contraste de bário também pode ser usado para diagnosticar uma das mais sérias complicações do câncer de esôfago, a fístula traqueoesofágica, que ocorre quando o tumor destrói o tecido entre o esôfago e a traquéia, criando um orifício que conecta os dois órgãos, um do sistema digestivo, outro do respiratório. Isso provoca tosse e engasgos e pode ser solucionado com cirurgia ou endoscopia.

Endoscopia digestiva alta: é o procedimento que envolve o uso de endoscópio, um tubo flexível com luz e câmera na ponta, que é introduzido pela boca do paciente sedado até o esôfago e estômago, permitindo que o médico observe o interior desses órgãos. A endoscopia também permite a retirada de uma amostra para posterior análise microscópica (biópsia), que determina se o tecido é mesmo canceroso e de que tipo de câncer se trata: adenocarcinoma ou carcinoma epidermóide. Se o tumor está bloqueando a entrada (chamada lume) do esôfago, ela pode ser alargada durante o procedimento. A endoscopia também fornece informação sobre o tamanho e a disseminação do tumor e se ele pode ou não ser completamente removido.

Tomografia computadorizada: São múltiplas imagens de raios-X, produzidas enquanto a máquina gira em torno do paciente, combinadas por computador, para produzir uma imagem detalhada de uma parte do organismo. Geralmente, depois que as primeiras imagens são feitas, um contraste é injetado no paciente para definir melhor as estruturas do corpo. Em seguida, nova série de tomadas é feita. O exame é mais demorado que o raio-X convencional e o paciente tem de ficar imóvel numa mesa por cerca de meia hora ou mais. A tomografia mostra o esôfago claramente e confirma sua localização. Além disso, permite visualizar os órgãos próximos, os nódulos linfáticos (estruturas do tamanho de um feijão que reúnem células do sistema imunológico e ajudam a combater infecções) e ver se o câncer atingiu órgãos distantes. A tomografia ajuda a determinar também se a cirurgia é ou não a melhor opção de tratamento.

Ecoendoscopia ou ultrassonografia endoscópica: segundo alguns estudos recentes, esse exame pode até ser mais preciso que a tomografia e a endoscopia para determinar o tamanho e o estádio do câncer de esôfago, isto é, o quanto ele se espalhou para os tecidos próximos. Um endoscópio com uma pequena sonda de ultrassom na ponta envia ondas sonoras que penetram nos tecidos e voltam para a sonda, onde são captadas e transformadas em imagens. A ecoendoscopia ajuda a determinar quanto do tecido próximo ao esôfago (incluindo gânglios linfáticos) foi afetado pelo câncer.

Broncoscopia: o procedimento é semelhante à endoscopia digestiva, mas aqui o médico observa a traquéia e os brônquios, para verificar se o câncer atingiu esses órgãos.

Tomografia por emissão de pósitrons (PET): Esse exame usa uma forma radioativa de glicose que é absorvida em grande quantidade pelas células cancerosas e é detectada por uma câmera especial. É muito útil quando o médico suspeita que o câncer se espalhou, e, pode ajudar também no estadiamento do câncer (isto é, a determinar em qual estádio se encontra a doença). É um dos exames mais modernos para detecção e estadiamento de tumores e suas metástases. Disponíveis em poucos centros especializados no Brasil e no mundo.

Toracoscopia e laparoscopia: esses procedimentos permitem que o médico visualize os nódulos linfáticos e outros órgãos próximos ao esôfago no interior do peito (toracoscopia) ou abdome (laparoscopia) através de um tubo com luz e câmera na ponta. O especialista pode introduzir instrumentos por esse tubo e remover nódulos linfáticos e amostras de tecido para biópsia.

Biópsia: durante a endoscopia ou outro procedimento, o médico vai remover uma amostra de tecido que será examinada por um patologista. Cabe a ele determinar se o tecido contém ou não células cancerosas e, em caso positivo, de que tipo de câncer se trata.
Fatores de Risco e Prevenção

Um fator de risco é qualquer condição que aumente as chances de uma pessoa ter uma determinada doença. Diferentes cânceres têm diferentes fatores de risco. Exposição prolongada ao sol sem filtro solar, por exemplo, aumenta o risco de câncer de pele. Fumar aumenta o risco de câncer pulmão, cólon e vários outros. Cientistas determinaram vários fatores de risco para o câncer de esôfago, alguns para o carcinoma epidermóide outros para o adenocarcinoma.

Idade: A incidência de câncer de esôfago aumenta com a idade. Praticamente metade dos doentes tem mais de 70 anos e 75% do total está na faixa dos 55 aos 85 anos. A probabilidade de a doença atingir pessoas com menos de 40 anos é de 1 em 100.000.

Sexo: homens têm risco 3 vezes maior de ter câncer de esôfago que as mulheres.

Etnia: Nos EUA, afrodescendentes têm 50% mais de risco de desenvolver câncer de esôfago do que a população branca. A maioria dos afro-americanos desenvolve a forma epidermóide, enquanto os adenocarcinomas são mais comuns entre os brancos.

Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): O estômago contém ácidos e enzimas digestivas fortes produzidas pelas células do seu próprio epitélio, além da presença de bile proveniente do duodeno. Em algumas pessoas, porém, o conteúdo gástrico ácido e/ou biliar (duodenal) escapa do estômago e entra no esôfago, produzindo a chamada doença do refluxo gastroesofágico.

Em muitos casos, a doença do refluxo causa sintomas como azia ou uma sensação de queimação que irradia do meio do peito, enquanto em outros, pode não causar sintomas. Se o refluxo continua por muito tempo, o ácido e/ou a bile podem danificar o revestimento da parte inferior do esôfago, fazendo com que células glandulares anormais substituam as células escamosas que normalmente revestem o esôfago. Essas células glandulares se assemelham às do estômago e são mais resistentes aos sucos gástricos. Essa condição é chamada de esôfago de Barrett e aumenta enormemente (entre 30 e 100 vezes) o risco de uma pessoa desenvolver câncer de esôfago. Com ou sem diagnóstico de esôfago de Barrett, a doença do refluxo gastroesofágico também aumenta o risco de adenocarcinoma do esôfago. Uma pesquisa recente realizada nos EUA mostrou que 44% dos americanos sofrem de azia pelo menos uma vez por mês e cerca de 30% dos casos de câncer de esôfago estão associados a RGE.

Esôfago de Barrett: essa condição é associada ao refluxo de longo prazo de fluidos do estômago e do duodeno na parte inferior do esôfago. O esôfago de Barrett é associado ao adenocarcinoma porque as células anormais do esôfago de Barrett podem progredir para se tornar displasia, uma condição pré-cancerosa. A displasia é caracterizada por graus, sendo a displasia de alto grau, ou nível, a mais anormal. Pessoas com esôfago de Barrett correm risco de cerca de 50 vezes maior de desenvolver câncer de esôfago do que a população normal. Embora o risco exato não seja conhecido, pesquisadores estimam que seja apenas de 1 em 200 por ano. Esses pacientes, portanto, precisam ser acompanhados atentamente por seus médicos. É importante lembrar que a maioria das pessoas que sofrem de esôfago de Barrett não desenvolve câncer de esôfago.

Fumo: O consumo de tabaco, sob a forma de cigarros, charutos, cachimbos e fumo mascado, é um dos principais fatores de risco para o câncer de esôfago. Quanto mais tempo a pessoa fuma, maior o risco. O risco para adenocarcinoma de esôfago dobra para quem fuma um maço de cigarros por dia. Mais da metade dos carcinomas epidermóides de esôfago estão associados ao fumo.

Álcool: O consumo prolongado e intenso de bebidas alcoólicas é um importante fator de risco para o câncer de esôfago, especialmente o epidermóide. Quando associado ao fumo, o álcool tem efeito potencializador para o desenvolvimento de câncer de esôfago e outros tumores aero-digestivos.

Obesidade: Excesso de peso e obesidade são fatores de risco comprovados, particularmente para o adenocarcinoma de esôfago. O risco de morte por câncer de esôfago é maior em homens obesos.

Alimentação: Uma dieta pobre em frutas e vegetais e insuficiente em certos minerais e vitaminas (particularmente vitaminas A, C e riboflavina ou vitamina B2) podem aumentar o risco de câncer de esôfago. Comer demais, o que leva à obesidade, aumenta o risco de adenocarcinoma. Certas substâncias presentes na dieta podem explicar a alta incidência da doença em determinadas partes do mundo. Cerca de 15% dos casos de câncer de esôfago estão associados a uma dieta pobre em frutas e vegetais.

Líquidos muito quentes: a ingestão de bebidas muito quentes (chá, café, chimarrão) pode aumentar o risco de carcinoma epidermóide.

Exposição ocupacional: a exposição a solventes usados na lavagem a seco pode aumentar bastante o risco de câncer de esôfago. Trabalhadores de lavanderias a seco têm maior incidência da doença.

Ingestão de soda cáustica ou lixívia: a soda ou lixívia é um produto químico usado para limpeza industrial e doméstica. É um agente corrosivo, isto é, que pode queimar e destruir células. Crianças que acidentalmente ingerem produtos de limpeza têm risco maior de desenvolver câncer de esôfago quando adultas, em média, 40 anos após a ingestão dessas substâncias.

Acalásia ou acalasia: nesta doença, o esfíncter inferior do esôfago não relaxa adequadamente para permitir que alimentos e líquidos passem para o estômago. A causa da doença é provavelmente um defeito nas células nervosas na região inferior do esôfago, que impede o relaxamento do esfíncter e, assim, dificulta a deglutição (o ato de engolir). O esôfago acima do esfíncter se dilata e passa a reter a comida. Não se sabe ao certo por que a acalásia é um fator de risco, mas cerca de 6% dos pacientes desenvolvem carcinoma epidermóide de esôfago.

Tilose: é uma doença hereditária rara que provoca o crescimento excessivo da camada superior da pele nas palmas das mãos e solas dos pés. Acredita-se que uma mutação no cromossomo 17 seja responsável pela tilose, bem como pelo maior risco de câncer de esôfago. Portadores da doença têm alto risco de desenvolver carcinoma epidermóide e exigem acompanhamento precoce e regular, por um especialista.

Rede esofágica ou síndrome de Plummer-Vinson ou síndrome de Paterson-Kelly: são protuberâncias anormais de tecido que crescem para dentro do esôfago e podem interferir na deglutição. Essas síndromes estão associadas também à anemia, anomalias da língua, unhas, baço e outros órgãos. Um em cada 10 pacientes desenvolve carcinoma epidermóide de esôfago.

Detecção precoce para grupos de risco

Não existem testes de detecção precoce ou screening que sirvam para a população em geral, mas pessoas com alto risco de desenvolver câncer de esôfago, como portadores de esôfago de Barrett, tabagistas, etilistas e antecedentes de tumores aero-digestivos, cujos fatores de risco são os mesmos, devem ser acompanhados mais atentamente para garantir que qualquer alteração seja detectada precocemente.

Pessoas pertencentes aos grupos de alto risco devem ser submetidas à endoscopia (exame em que um endoscópio, um tubo flexível com luz na ponta é introduzido no esôfago para observá-lo) e à biópsias regularmente. Em especial, nos casos de Barrett quando há displasia (aparecimento de células pré-cancerosas), as endoscopias e biópsias devem se tornar mais freqüentes, pelo menos uma vez por ano. Se a displasia é de alto grau (isto é, se as células parecem bastante anormais), há motivo de preocupação. Muitos, mas nem todos, médicos recomendam cirurgia para remoção da área com esôfago de Barrett, a não ser que o estado de saúde do paciente esteja comprometido e ele não pareça capaz de resistir ao procedimento. A cirurgia é recomendada por causa do alto risco de já existir adenocarcinoma (embora não tenha sido detectado) ou de ele se desenvolver em alguns anos. O prognóstico para esses pacientes é relativamente bom. Essa estratégia de monitoramento pode detectar o câncer precocemente e aumentar as chances de sucesso do tratamento.

Sinais e sintomas

Na maioria das vezes, o câncer de esôfago é descoberto por causa dos sintomas que produz. O diagnóstico em pacientes assintomáticos é raro e geralmente acontece por acaso, quando o paciente faz exames por outros problemas médicos. Infelizmente, a maior parte dos cânceres de esôfago só causa sintomas se estiverem avançados, quando a cura é menos provável.

Disfagia: o sintoma mais comum do câncer de esôfago é a dificuldade para engolir ou disfagia, com a sensação de que a comida está entalada na garganta ou no peito. Freqüentemente, nos casos de câncer, a abertura do esôfago é reduzida pela metade. Assim, a disfagia costuma ser um sintoma tardio, que surge quando o câncer já é grande e tem poucas chances de ser curado.

Quando a deglutição se torna difícil, as pessoas mudam seus hábitos alimentares sem perceber. Pão e carne, por exemplo, costumam ?entalar?. Passam a mastigar mais os alimentos e passam a ingerir comidas pastosas, mais molinhas, que passam pelo esôfago mais facilmente. Algumas pessoas adoram uma dieta pastosa ou líquida. Com o tempo, nem líquidos passam pelo esôfago. Na tentativa de ajudar os alimentos a passar pelo esôfago, o organismo produz mais saliva e alguns pacientes se queixam do excesso de muco e saliva.

Dor: Em casos raros, pacientes podem sentir dor no peito ou desconforto, sob a forma de pressão ou queimação. Mas, como esses sintomas são associados a uma azia, geralmente passam despercebidos. A deglutição dolorosa é sintoma de um tumor grande que bloqueia a abertura do esôfago. A dor pode se manifestar alguns segundos após a deglutição, quando o alimento ou líquido alcança o tumor e não consegue passar.

Perda de peso: Cerca de metade dos pacientes com câncer de esôfago se queixam de perda de peso, provocada pelo fato de não conseguirem engolir alimentos e nutrientes suficientes para manter seu peso. No início da doença, isso pode passar despercebido. O câncer também pode provocar perda de apetite e afetar o metabolismo.

Outros sintomas: Rouquidão, soluços, pneumonia e altos níveis de cálcio no sangue geralmente são sinais de câncer de esôfago avançado. Algumas vezes, o câncer sangra e se houver sangue suficiente, as fezes podem se tornar escuras, praticamente negras. Isso pode ocorrer com outros cânceres e com algumas doenças benignas e nem sempre indica câncer de esôfago.

O médico deve ser consultado imediatamente por um especialista se o paciente apresentar qualquer um dos seguintes sintomas:

- Disfagia, a sensação de que a comida fica entalada na garganta ou no peito;
- Perda de peso significativa, sem dieta ou motivo aparente;
- Evitar alimentos sólidos por causa da dificuldade para engolir;
- Soluços e disfagia juntos.
Depois de diagnosticado e estadiado, a equipe médica irá discutir as opções de tratamento com o paciente, em que vão ser levados em consideração dois fatores, o estado geral de saúde do doente e o estádiamento do câncer. Geralmente, os médicos recomendam que o paciente procure um especialista em cirurgia de câncer de esôfago, que é uma forma de obter mais informações e de o paciente ficar mais seguro em relação ao tratamento.

As opções para o tratamento de câncer de esôfago incluem cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Outros procedimentos, como colocação de stent mecânico ou terapia fotodinâmica são usados como paliativos, isto é, recursos para aliviar sintomas, como a dor, mas que não se destinam a curar a doença.

Cirurgia
Dependendo do estádio do câncer, a cirurgia pode ser usada para remover o câncer e parte do tecido vizinho. Ela também pode ser combinada a outros tratamentos, como a quimioterapia e a radioterapia.

A esofagectomia é o procedimento cirúrgico que envolve a remoção da parte do esôfago contendo o câncer, uma pequena porção do estômago e, na maioria dos casos, a criação de um "novo esôfago", através de uma nova conexão entre a parte superior do que restou do esôfago com parte do estômago. Os gânglios linfáticos próximos também são retirados.

A extensão da ressecção vai depender do estádio do tumor, sua localização e da experiência do cirurgião. Para tumores no terço distal do esôfago ou junção gastroesofágica, são removidas a parte do esôfago com o tumor mais 8 ou 10 cm acima e a parte superior ou, em alguns casos, o estômago. Dependendo da abordagem cirúrgica, o estômago pode ser conectado ao esôfago na altura do peito ou mesmo no pescoço.

Se o tumor estiver na parte superior ou média do esôfago, a maior parte do órgão terá de ser removida. Neste caso o estômago será levado para cima e conectado ao esôfago na altura do pescoço. Se o estômago não puder ser utilizado, o cirurgião poderá substituir a parte removida do esôfago com parte do intestino delgado ou grosso, um procedimento minucioso, já que a irrigação sanguínea desses órgãos é delicada e precisa ser preservada.

Assim como em outros tumores a cirurgia do câncer de esôfago envolve a remoção extensa dos linfonodos (linfadenectomia) abdominais e torácicos (mediastinais), e em algumas situações, até os cervicais, para garantir um estadiamento completo e dar ao paciente a melhor chance de cura, desde que os pacientes tenham condições clínicas adequadas e o estadiamento do tumor não seja muito avançado (nessas situações a chance de cura é diminuída). Portanto, recomenda-se que a equipe seja habituada com esse tipo de cirurgia respeitando os critérios de radicalidade oncológica (relacionadas ao tratamento específico do câncer).

A cirurgia radical (com ressecção completa do tumor e remoção dos linfonodos) é a modalidade terapêutica que dá melhores possibilidades de cura ao paciente, nos casos indicados. Infelizmente, a maioria dos cânceres de esôfago não é diagnosticada precocemente para que a cirurgia seja uma opção curativa. Assim, é importante que o paciente entenda qual o objetivo do tratamento, se é curar a doença ou aliviar os sintomas (paliação). Em muitas vezes pode ser associada com tratamentos complementares antes (neoadjuvantes) ou após (adjuvantes) o tratamento cirúrgico, como a radioterapia e a quimioterapia.

Radioterapia
A radioterapia usa a radiação de alta energia para matar as células cancerosas e pode ser de fonte externa ou interna (braquiterapia). No caso dos tumores de esôfago, a mais usada é a radioterapia de fonte externa, que muitas vezes é o tratamento primário (principal) da doença, especialmente quando o estado de saúde do paciente impede a realização de cirurgia. Na opinião de alguns médicos, a radio combinada com a quimioterapia pode ser tão eficaz quanto a cirurgia em casos selecionados.

Após cirurgia, a radioterapia é usada para matar minúsculos depósitos de células cancerosas que não podem ser vistos nem removidos durante a cirurgia. Ela também pode ser usada para aliviar os sintomas do câncer de esôfago tais como dor, sangramentos, dificuldade para engolir e sintomas causados pelo câncer de esôfago quando há metástases.

Sozinha, a radioterapia não cura o câncer de esôfago, mas é bastante eficaz no alívio da disfagia em pelo menos 70% dos pacientes, que têm um alívio temporário do problema. Na maioria das vezes, porém, a radioterapia é usada juntamente com a cirurgia e/ou quimioterapia. Combinada com a quimioterapia, a radioterapia pode ser curativa para alguns pacientes e oferecer alívio de sintomas e prolongar a vida de outros.

A braquiterapia pode ser útil para ajudar pacientes com dificuldades para engolir. Na braquiterapia, sementes radioativas são colocadas diretamente na área do tumor através de um endoscópio.

Os efeitos colaterais da radioterapia incluem problemas de pele, digestivos, diarréia e cansaço. O maior problema para os pacientes é ter dor ao engolir, já que a radioterapia mata as células normais do revestimento do esôfago, mas o problema desaparece com o fim do tratamento e a reposição natural dessas células. Radiação na região do tórax também pode provocar danos pulmonares e dificuldades respiratórias. Por isso é importante conversar com o médico antes e depois do tratamento sobre os meios de reduzir os efeitos colaterais.

Quimioterapia
A quimioterapia envolve o uso de drogas, injetadas por via endovenosa ou administradas por via oral, que caem na corrente sanguínea e atingem todas as áreas do corpo, tornando-a útil nos casos em que o câncer se espalhou para outros órgãos. Dependendo do tipo e estadiamento do câncer de esôfago, a quimioterapia pode ser administrada como tratamento primário (principal), antes (neoadjuvante) ou depois (adjuvante) da cirurgia.

A quimioterapia não cura o câncer de esôfago a não ser combinada com a radioterapia e, em alguns casos, com a cirurgia. Há 3 situações em que a quimioterapia é usada:

Terapia paliativa: o objetivo é controlar sintomas como a disfagia e a dor. Pode ser usada em combinação com outros tratamentos com o objetivo de curar a doença ou sozinha quando a cura não é possível.

Quimioterapia neoadjuvante ou pré-operatória: o objetivo é reduzir o tumor e possivelmente permitir uma remoção cirúrgica mais completa do câncer.

Quimiorradioterapia:  juntas, quimioterapia e radioterapia, são capazes de encolher o tumor e às vezes são usadas antes da cirurgia para facilitar a operação. Muitos especialistas acreditam que a quimiorradioterapia aumenta as chances de cura, mas isso ainda não é consenso.

A quimioterapia mata as células cancerosas, mas também atinge as células normais, o que pode produzir uma série de efeitos colaterais, entre eles:

- Perda de apetite;
- Perda temporária dos cabelos;
- Aparecimento de lesões na boca;
- Diarréia;
- Maior suscetibilidade a infecções, por causa da redução no número;
- De glóbulos brancos;
- Aparecimento de hematomas após pancadas leves ou de sangramentos em cortes pequenos por causa da queda na quantidade de plaquetas no sangue;
- Cansaço ou falta de fôlego, causado pela diminuição no número de glóbulos vermelhos.

A maioria dos efeitos desaparece com o fim do tratamento. Há medicamentos e estratégias para lidar com os efeitos colaterais e até evitá-los.

Terapia com laser e eletrocoagulação
Utiliza-se fontes diferentes de energia para destruir células tumorais. Normalmente utilizadas para abrir a passagem aos alimentos nos tumores que dificultam a deglutição, em tratamentos paliativos.

Próteses esofágicas
Utilizadas para dilatar e manter aberta a passagem de alimentos em tumores esofágicos que dificultam a deglutição de alimentos.

Outras formas de terapia têm sido testadas em estudos clínicos

Estadiamento
Estadiamento é o processo de determinar se e o quanto o câncer se espalhou. O tratamento e o prognóstico (as chances de sobrevivência) do paciente com câncer de esôfago dependem, em grande parte, do estadiamento. Esse processo combina as informações obtidas com os exames por imagem descritos acima e os resultados de biópsias e endoscopias.

No caso do câncer de esôfago o sistema mais usado é o TNM - onde T indica características do tumor (o quanto o tumor cresceu no próprio esôfago e em órgãos vizinhos), N diz respeito à doença ter atingido ou não os gânglios linfáticos (nódulos do sistema imunológico que contêm células que combatem infecções e o câncer) e, M indica metástase à distância (o alastramento da doença para órgãos distantes).

Estádios T
Tis: carcinoma in situ (o tumor está restrito ao epitélio, a camada mais interna do esôfago)

T1: o tumor invadiu a lâmina própria (a segunda camada) ou a submucosa (a terceira) as células cancerosas atingem a camada seguinte à mucosa, chamada lamina própria ou submucosa

T2: o tumor invadiu a muscularis propria (a quarta camada)

T3: o tumor invadiu a adventícia (quinta camada, a mais externa)

T4: o tumor invadiu as estruturas próximas

Estádios N
N0: o câncer não atingiu gânglios linfáticos próximos

N1: o câncer atingiu gânglios linfáticos próximos

Estádios M
M0: não há metástase para órgãos distantes

M1a: metástase para gânglios linfáticos distantes

M1b: metástase para órgãos distantes

As informações sobre o tumor, os gânglios linfáticos e metástase são então combinadas para determinar o estádio da doença. Esses estádios vão de zero a 4 e são indicados por algarismos romanos:

Estádio 0 (Tis, N0, M0): é o estádio mais inicial, chamado carcinoma in situ, indicando que o câncer está restrito ao epitélio (a camada mais interna do esôfago) e não invadiu o tecido conectivo abaixo dele.

O câncer não atingiu os gânglios linfáticos nem outros órgãos.

Estádio I (T1, N0, M0): o câncer de esôfago não está apenas no epitélio, mas alcançou também a lâmina própria ou a submucosa. O tumor não atingiu os gânglios linfáticos nem outros órgãos.

Estádio II: há 2 subestádios, IIA e IIB.

Estádio IIA (T2 ou 3, N0, M0): o câncer invadiu a muscularis propria e pode ter alcançado a adventícia, o tecido conectivo que cobre o exterior do esôfago. O câncer não atingiu os gânglios linfáticos nem outros órgãos.

Estádio IIB (T1 ou 2, N1, M0): o câncer pode ter invadido a lâmina própria, a submucosa e a muscularis propria, mas não a adventícia. No entanto, o tumor alcançou os gânglios linfáticos próximos ao esôfago, mas não se espalhou para órgãos distantes.

Estádio III (T3, N1, M0; OU T4, N0 ou N1, M0): o câncer atingiu a adventícia e os gânglios linfáticos próximos OU se espalhou da adventícia para órgãos próximos como a traquéia e pode ou não ter atingido os gânglios linfáticos. O câncer não alcançou gânglios linfáticos ou órgãos distantes.

Estádio IV: há 2 subestádios, IVA e IVB.

Estádio IVA (qualquer T, qualquer N, M1a): o câncer atingiu gânglios linfáticos distantes. Se o câncer de esôfago está na parte superior do peito, ele se espalhou para os nódulos linfáticos do pescoço. Se o câncer de esôfago está na parte inferior do esôfago, ele se espalhou para os nódulos linfáticos do abdôme.

Estádio IVB (qualquer T, qualquer N, M1b): o câncer se espalhou para nódulos linfáticos distantes ou para órgãos distantes, como fígado, ossos ou cérebro.

Só devem ser realizadas em centros de pesquisa especializados.

Sobrevida
A taxa de sobrevida após determinado período e, na maioria das vezes, diz respeito ao número de pacientes que sobrevivem pelo menos 5 anos após o diagnóstico. Essas taxas são usadas para produzir um padrão a partir do qual se pode discutir prognósticos e a melhor escolha do tratamento. Obviamente, com a implementação de novas terapias, aprimoramento das já existentes e com o diagnóstico cada vez mais precoce dos tumores, há uma tendência de resultados cada vez melhores em centros de grande experiência, em que as equipes são treinadas e direcionadas ao tratamento oncológico, levando a maiores chances de sobrevivência.


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