quinta-feira, 2 de junho de 2011

Câncer de Pele : Não Melanoma

Pele, o maior órgão do corpo

Não costumamos pensar na pele como um órgão, mas é isso o que ela é: o maior órgão de nosso corpo, responsável pela troca de calor e água com o ambiente, encarregado de proteger os órgãos internos contra bactérias e de captar e enviar para o cérebro informações sobre calor, frio, dor e tato. A pele tem três camadas, a epiderme (mais externa), a derme e o tecido subcutâneo, mais profundo.

A epiderme é bem fina e, por sua vez, tem três camadas: a superior, formada por células chamadas queratinócitos, a média e a mais interna, formada pelas chamadas células basais.

As células basais dão origem aos queratinócitos também chamadas células escamosas, que produzem queratina e impermeabilizam a pele e, aos melanócitos, células que produzem melanina, o pigmento marrom que dá cor à pele e cuja função é proteger as camadas mais profundas da pele contra os efeitos nocivos da radiação solar.

Negros e brancos possuem a mesma quantidade de melanócitos, mas as pessoas de pele escura produzem mais melanina, especialmente uma chamada eumelanina, mais eficiente na proteção contra os raios ultravioletas (UV) do sol. É por isso que negros e afro-descendentes têm menor risco de desenvolver câncer de pele.

A derme, a camada intermediária da pele, é mais espessa que a epiderme e abriga as glândulas sebáceas, folículos pilosos (as raízes dos pêlos), vasos sanguíneos e nervos.

O tecido subcutâneo às vezes chamado de hipoderme é responsável pela retenção do calor do corpo e funciona como um "colchonete", que absorve impactos e protege os órgãos internos contra choques e pancadas.

Tipos de câncer de pele

O câncer de pele é o tipo de câncer mais comum e representa mais da metade dos diagnósticos de câncer. São mais de um milhão de novos casos por ano nos Estados Unidos e cerca de 120 mil novos casos no Brasil.

Há dois tipos básicos de câncer de pele, os não-melanoma, geralmente das células basais ou das escamosas, e os melanomas, que têm origem nos melanócitos, as células produtoras de melanina.

Os não-melanoma representam 95% do total dos casos de câncer de pele e os dois tipos mais comuns são o basocelular (carcinoma de células basais) e o espinocelular (carcinoma de células escamosas).

O carcinoma basocelular ou de células basais tem origem nas células basais da epiderme e representam 75% dos casos de câncer de pele. É mais comum em pessoas de meia-idade e idosos e geralmente aparece em áreas muito expostas ao sol, como o rosto e o pescoço. Como o hábito de tomar sol e ir à praia por longos períodos se popularizou nas últimas décadas, esse tipo de câncer tem aparecido em pessoas cada vez mais jovens. O carcinoma basocelular se desenvolve lentamente e dificilmente se espalha para outras áreas do corpo, mas exige tratamento mesmo assim. E, entre 35% e 50% das pessoas que tiveram esse câncer de pele vão ter outro num prazo de 5 anos após o diagnóstico. Isso significa que quem já teve câncer de pele tem de fazer um acompanhamento permanente.

O carcinoma espinocelular ou de células escamosas tem origem na camada mais externa da epiderme e responde por 20% do total de casos. Geralmente aparece no rosto, orelha, lábios, pescoço e no dorso da mão. Pode também surgir de cicatrizes antigas ou feridas crônicas da pele em qualquer parte do corpo e até nos órgãos genitais. Carcinomas espinocelulares têm risco maior que o basocelular de invadir o tecido gorduroso, atingir os linfonodos (gânglios linfáticos) e outros órgãos.

Há vários outros tipos de câncer não-melanoma, mas são bem mais raros e representam apenas 1% do total.

Lesões cancerizáveis da pele

A maioria dos tumores de pele são benignos, dificilmente se transformam em câncer, mas é um sinal de que alguma coisa está errada em sua pele e você deve procurar um especialista.

Queratose actínica: são lesões pré-cancerosas provocadas pelo efeito cumulativo da exposição aos raios ultravioleta. Caracteriza-se pelo aparecimento de pequenas lesões ásperas, avermelhadas ou cor da pele, no rosto, orelhas, dorso da mão, braços e até na cabeça de homens calvos. É mais comum em pessoas de meia-idade e pele clara.

São classificadas histologicamente em cinco tipos: hipertrófica, atrófica, bowenóide, acantolítica e pigmentada. Pode apresentar transformação desenvolvendo o carcinoma espinocelular.

Carcinoma espinocelular in situ ou doença de Bowen: é o estágio inicial do câncer de pele de células escamosas. In situ significa que o câncer ainda está restrito ao local onde se originou e se caracteriza pelo aparecimento de manchas rosadas na pele, também provocadas pela exposição ao sol. Clinicamente, caracteriza-se por área eritematosa coberta por crostas, com lesões bem definidas com bordas irregulares. A maioria dos pacientes são idosos e, em um terço deles as lesões são múltiplas. A cirurgia é o tratamento de escolha, com melhores índices de cura, porém a radioterapia, crioterapia e quimioterapia também são empregadas.

Leucoplasia oral: é caracterizada por mancha ou placa branca localizada na mucosa oral ou língua. As lesões são desencadeadas por trauma mecânico (próteses dentárias) ou trauma químico (fumo). A transformação maligna é rara, mas toda lesão leucoplásica na cavidade oral deve ser biopsiada. O tratamento consiste no afastamento do mecanismo de trauma, seja ele mecânico ou químico, e avaliação periódica. Cirurgicamente, podemos realizar biópsia excisional para lesões pequenas e a crioterapia ou eletrocoagulação para lesões maiores.

Carcinoma in situ da mucosa oral: ou papilomatose oral florida. O diagnóstico histológico é obrigatório. No tratamento cirúrgico das formas localizadas podemos utilizar a crioterapia ou curetagem e eletrocoagulação. O uso do etretinato sistêmico também é realizado com boas respostas.

Queratoacantoma: assemelha-se clínica e histopatologicamente ao carcinoma espinocelular. Localiza-se de preferência em áreas descobertas como face, antebraço, dorso das mãos e pescoço. Existem formas solitárias ou múltiplas. Há fase de crescimento rápido (4 a 8 semanas), período estacionário e involução espontânea (4 a 6 meses). A exérese total da lesão é importante para o diagnóstico e o exame histopatológico é imperativo.

Por ser um câncer que compromete inicialmente a pele, o diagnóstico precoce pode ser feito na maioria dos casos apenas com exame físico, dispensando a necessidade de exames sofisticados. O diagnóstico precoce é a chave para o tratamento de qualquer tipo de câncer, e também para o câncer de pele.

Várias são as características que podem levar a suspeitar de um câncer de pele: qualquer lesão de pele que apresente características semelhantes às descritas aqui devem ser analisadas por um profissional especializado, para seu correto diagnóstico e tratamento. A auto-medicação não é recomendada, pois aquilo que serviu para o seu vizinho pode não ser o melhor para você, e pior, pode ainda atrapalhar o seu tratamento.

São sinais característicos do câncer de pele:

Lesão em forma de nódulo de coloração rósea, avermelhada ou escura, de crescimento lento, porém progressivo;

Qualquer pinta na pele de crescimento progressivo, que apresente prurido (coceira), sangramento freqüente, ou mudança nas suas características (coloração, tamanho, consistência, etc.);

Qualquer ferida que não cicatrize espontaneamente em 4 semanas;

Qualquer mancha de nascimento que mude de cor, espessura, ou tamanho.

A avaliação médica, o exame físico minucioso e os métodos diagnósticos auxiliares (biópsia de pele, dermatoscopia) devem ser realizados quando necessário. A Dermatoscopia é um método usado para diagnosticar lesões de pele, incluindo nevos e outras lesões benignas, carcinomas e o melanoma cutâneo e, também, para indicar ou contra-indicar cirurgias.

O Dermatoscópio é um aparelho que emite luz halógena e amplia a lesão a ser examinada em 10 vezes. Podemos assim identificar estruturas e atribuir notas às lesões, classificando-as em benignas, suspeitas ou malignas.

Grupos de Risco para o Desenvolvimento de Câncer de Pele:

Vários são os sinais que devem alertar os médicos e pacientes quanto a possibilidade de um indivíduo vir a apresentar um câncer de pele:
- Pessoas com história pessoal de câncer de pele.
- Pessoas que possuem familiares que já tiveram câncer de pele.
- Pessoas de pele clara, olhos azuis ou verdes, cabelos loiros ou ruivos.
- Pessoas com a imunidade reduzida, por doença ou por medicamentos.
- Pessoas albinas ou portadoras de algumas doenças que predispõem ao câncer de pele.
- Pessoas que já se expuseram ou se expõem ao sol excessivamente.
- Pessoas expostas prolongadamente a raios X, raios ultravioleta, arsênico, ou outros produtos químicos.
- Pessoas que possuem uma quantidade grande de pintas.
- Pessoas que possuem cicatrizes há muitos anos, as quais apresentam ulcerações freqüentes.
A maioria dos cânceres de pele é causada pela radiação UV, mas há outros fatores que aumentam o risco do câncer de pele não-melanoma. Estes são alguns dos fatores de risco:

Já ter tido câncer de pele: a chance de ter outro é maior.

Exposição prolongada ao sol: expor-se a sol forte sem proteção de filtros (no mínimo fator 15) envelhece a pele e aumenta enormemente o risco de câncer no futuro.

Ter pele clara: O risco é bem maior entre pessoas brancas (loiras e ruivas) do que entre as negras ou afro-descendentes, o que não significa que negros não têm câncer de pele, só que é mais raro.

Homens: eles correm risco 2 vezes maior de ter carcinoma basocelular e 3 vezes maior de ter carcinoma espinocelular, provavelmente porque passam mais tempo ao ar livre.

Produtos químicos: Trabalhadores que lidam com arsênico (usado em alguns pesticidas), carvão, parafina, alcatrão e alguns óleos também correm risco maior de desenvolver câncer de pele.

Radioterapia: Pessoas que fizeram tratamento com radioterapia têm maiores chances de desenvolver carcinomas de pele, principalmente crianças submetidas à radioterapia.

Problemas de pele graves: cicatrizes crônicas de queimaduras, áreas da pele sobre infecções ósseas sérias e certas doenças da pele aumentam o risco de câncer não-melanoma, embora o risco seja pequeno.

Psoríase: Portadores da doença que tenham sido tratados com psoralen e radiação ultravioleta podem ter risco aumentado para câncer de pele não-melanoma.

Xeroderma pigmentoso: é uma doença genética rara. Os doentes, também conhecidos como "Filhos da Lua" têm um dano no DNA que impede o reparo da pele atingida pelos raios do sol e de algumas fontes de iluminação artificial (emissões de radiação ultravioleta). Os portadores podem ter vários cânceres de pele, começando já na infância.

Imunossuprimidos: Pessoas submetidas a transplantes e que tomam drogas para evitar a rejeição correm maior risco de ter câncer de pele, que, nestes casos, crescem mais depressa e podem até ser fatais.

Infecções: há indícios de que alguns cânceres de pele podem estar associados a infecções por Papilomavírus (HPV), um grupo de vírus que causa verrugas genitais.

Cigarro: O fumo é fator de risco para vários tipos de câncer, entre eles o carcinoma espinocelular de lábio e boca.

Como evitar a doença:

Filtro solar e chapéu são as melhores armas para prevenir o câncer de pele. O ideal é tomar sol na praia ou piscina, antes das 10 horas, ou à tarde, depois das 15 horas, sempre usando filtro solar (fator 15 no mínimo), chapéu e óculos escuros.

O cuidado deve ser redobrado com as crianças, porque a exposição exagerada ao sol nos primeiros 20 anos de vida é decisiva para o aparecimento de câncer de pele na meia-idade.

O uso de filtro solar, especialmente para os pacientes de alto risco (pele clara, olhos claros), não vale apenas para a praia, ele deve ser usado no dia-a-dia também, principalmente no rosto e nos braços, em passeios, caminhadas, ao fazer exercícios ou compras ao ar livre.

A recomendação vale também para aqueles dias de mormaço ou nublados.

Use óculos escuros com lentes de boa qualidade. Eles ajudam a proteger a pele delicada da região dos olhos.
Cirurgias simples, que removem o tumor, costumam curar completamente os carcinomas basocelulares e os espinocelulares. Em alguns casos de carcinomas espinocelulares, o especialista pode indicar radioterapia ou quimioterapia após a cirurgia, já que ele apresenta um risco levemente maior de se espalhar para outros órgãos. A escolha do tratamento vai depender do tamanho e tipo do câncer e de sua localização.

Estadiamento

O estadiamento de todos os carcinomas de pele, exceto pálpebra, vulva e pênis, segue a mesma padronização. Os estágios da doença são indicados por algarismos romanos, que vão de zero a IV (4) e quanto maior o número, mais grave a fase da doença. Como é muito raro que o carcinoma basocelular se espalhe, geralmente os médicos nem fazem o estadiamento, só quando o tumor é grande.

Classificação clínica TNM:

T - tumor primário;
Tx - tumor primário, não pode ser avaliado;
T0 - não há evidência de tumor primário;
Tis - carcinoma in situ;
T1 - tumor de até 2 cm na sua maior dimensão;
T2 - tumor maior que 2 cm até 5 cm na sua maior dimensão;
T3 - tumor maior que 5 cm na sua maior dimensão;
T4 - tumor que invade as estruturas extradérmicas profundas, como cartilagem, músculo esquelético ou osso;
N - linfonodos regionais;
Nx - linfonodos regionais que não podem ser acessados;
N0 - ausência de metástases em linfonodo regional;
N1 - metástase em linfonodo regional;
M - metástase à distância;
M0 - ausência de metástase à distância;
M1 - metástase à distância;

Obs, a presença de metástase em linfonodos não pertencentes à cadeia de drenagem primária é classificada como M1.

Cirurgia: o tumor é retirado junto com um pouquinho de pele normal ao seu redor.

Criocirurgia: nitrogênio líquido é usado para congelar e matar as células doentes e, após o tratamento, o local apresenta bolhas e forma "casca", levando algumas semanas para cicatrizar. A área da pele pode ficar descolorida após a terapia.

Cirurgia micrográfica de Mohs: é um procedimento delicado que exige prática e perícia do cirurgião, mais utilizado em centros especializados no tratamento oncológico. O médico remove uma camada da pele que pode ter sido invadida pelo câncer e mapeia sua localização. Ele examina a amostra ao microscópio imediatamente e, se houver tecido canceroso, remove mais um pouquinho de pele e volta a examiná-lo ao microscópio. O processo é demorado, mas permite o máximo controle histopatológico e preservação do tecido (pele) normal ao redor do tumor. Apesar de muito difundido na dermatologia, é de pouca aceitação pelos cirurgiões que preferem a excisão cirúrgica com mapeamento intra-operatório das margens por patologia de congelação.

Cirurgia de linfonodo (gânglios linfáticos): Se gânglios linfáticos próximos ao tumor estão crescendo, pode ser sinal de que o câncer atingiu esses nódulos. Nesse caso, eles são removidos cirurgicamente e analisados ao microscópio.

Reconstrução: nos casos em que o tumor é grande, às vezes é necessário fazer um enxerto ou retalho de pele para ajudar na cicatrização e recuperar a aparência da região.

Quimioterapia: é o uso de medicamentos para matar células cancerosas. Ela pode ser tópica, quando a droga é colocada diretamente sobre a pele, em vez de administrada por via oral ou injetada. Como a medicação só atinge as células superficiais, é usada para tratar lesões pré-cancerosas, o que deixa a pele avermelhada e sensível, inclusive ao sol, por algumas semanas.

Drogas como o Interferon também podem ser injetadas diretamente no câncer, uma estratégia usada quando a cirurgia não é possível. A quimioterapia sistêmica (injetada na veia ou administrada por via oral) é utilizada quando o carcinoma espinocelular se espalhou para outros órgãos. Isso pode retardar o avanço da doença e aliviar alguns sintomas.

A quimioterapia mata as células cancerosas, mas também as normais, o que produz alguns efeitos colaterais, entre eles:

- náusea e vômito
- perda de apetite
- feridas na boca
- maior risco de infecções (porque diminui o número de glóbulos brancos)
- risco de sangramento ou hematoma por causa de pequenos cortes ou pancadas (por causa da redução na quantidade de plaquetas no sangue)
- cansaço (por causa do menor número de glóbulos vermelhos)

A maioria dos sintomas desaparece com o fim do tratamento.

Radioterapia: é o tratamento com raios de alta energia que matam as células cancerosas ou fazem o tumor encolher.Ela pode ser a primeira escolha do especialista se o tumor for muito grande ou estiver em área que dificulte a remoção cirúrgica. Pode ser opção também para pessoas de idade, nas quais seria melhor evitar a cirurgia. A radioterapia também pode ser empregada como terapia adicional (adjuvante) para atingir células cancerosas que podem ter escapado da cirurgia. Isso também reduz o risco de o câncer voltar.

Os efeitos colaterais da radioterapia incluem irritação, vermelhidão e ressecamento da pele. Depois de muitos anos, a área da pele irradiada pode desenvolver novos cânceres, por isso a radiação não é muito usada no tratamento de câncer de pele de jovens.

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